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Como Megarromântico tenta criticar comédias românticas

Como Megarromântico tenta criticar comédias românticas
Originalmente publicado no blog do Cinecom

Uma comédia romântica não tradicional é capaz de mudar a forma como enxergamos os romances no cinema?

O filme Isn’t It Romantic (traduzido para Megarromântico) conta a história de Natalie, vivida por Rebel Wilson, uma jovem arquiteta descrente do amor e que busca ser reconhecida em seu trabalho. A primeira parte do filme traz uma Natalie que critica fortemente as comédias românticas por funcionarem sob uma espécie de modelo, onde aparecem sempre os mesmo clichês: mulheres brigando por homens, um melhor amigo gay que só aparece para ajudar a protagonista, recursos como câmera lenta e narrações no decorrer do filme, e o charme atribuído a protagonista que sempre tropeça. 

Mas a reviravolta do filme acontece quando ao reagir a um assalto, Natalie bate a cabeça e quando acorda sua vida se transformou em uma comédia romântica. A partir desse momento o milionário Blake (Liam Hemsworth) se apaixona por Natalie e seu melhor amigo Josh (Adam DeVine) vive um romance com a modelo Isabela (Priyanka Chopra).

O filme foi produzido pela Warner Bros. Pictures e estreou nos Estados Unidos na véspera do dia dos namorados (13 de fevereiro de 2019) , tendo arrecadado vinte e dois milhões de dólares, durante a semana de estreia. Desde o dia 28 de fevereiro está disponível na Netflix sendo avaliado com 79% de relevância. Além disso, na avaliação do Rotten Tomatoes tem 69% de aprovação. 

Mas o que chama a atenção nesse filme:

1- A protagonista destoa de alguns estereótipos. Natalie não tem um corpo padrão, não usa maquiagem, não tem um apartamento maravilhoso e uma vizinhança perfeita. Ela claramente não está em busca de conhecer o ‘homem da sua vida’, pois não acredita no amor de forma idealizada – principalmente por não acreditar que ela pode viver um romance nesses moldes. 

2- Na primeira parte do filme o trabalho da protagonista e a cidade de Nova York, onde se passa o filme, não são romantizados. Natalie é desrespeitada e subestimada por colegas de trabalho e descreve a cidade como fedida, com cheiro de lixo.

3- O filme mostra de forma explícita e exagerada elementos típicos das comédias românticas, como as músicas que são cantadas espontaneamente, mas que são perfeitamente cantadas e coreografadas, não só pelas personagens, mas também por figurantes. E como a ‘cena de sexo’ entre Natalie e Blake, em que o ato sexual fica subentendido e o fato de que todas as vezes em que a protagonista fala um palavrão ele é censurado por um piiiiii*, e que todos a tratam com gentileza – exceto a colega de trabalho, que é sua rival.

4- O discurso feminista aparece claramente em algumas falas de Natalie, principalmente na primeira parte do filme em que ela aborda a rivalidade e as amizades femininas.

5- Natalie passa por um makeover em direção ao empoderamento e ao amor próprio, que a fazem se posicionar no trabalho, em relação a si mesma (ela diz em um momento do filme que se ama) e em relação ao romance/ relacionamentos. 

O filme cumpre a função de sátira às comédias românticas típicas, porém ainda reproduz o maior clichê desse gênero de filmes: no final a protagonista está em um relacionamento heterossexual com algum personagem da história. Ou seja, mesmo pautando o amor próprio e empoderamento feminino, ainda é preciso de um homem para que uma mulher viva um ‘final feliz’. 

O gênero cinematográfico – comédia romântica – extrapola a tela do cinema e o simples entretenimento ao afirmarem um modo de vida, sobretudo para mulheres. A identificação com a protagonista, independente da história e de suas características, significa que se acredita no amor perfeito, no destino, em superar adversidades, e ao fim viver um ‘feliz para sempre’ ao lado do príncipe charmoso.

Megarromântico chama atenção sobretudo para a necessidade de atualização do gênero comédia romântica e para o fim do uso dos clichês, tão criticados por Natalie no início do filme. Essa atualização é necessária uma vez que a representatividade das comédias românticas é quase nula, o machismo é um traço forte e os estereótipos nas representações femininas e no papel da mulher são frequentes.
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